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Dúvidas linguísticas
perturba-o ou perturba-lhe
Tenho uma dúvida na utilização dos pronomes "lhe" ou "o". Por exemplo, nesta frase, qual é a forma correta: "para Carlos não lhe perturbava a existência, ou mesmo a necessidade dos movimentos da vanguarda" ou " para Carlos não o perturbava a existência, ou mesmo a necessidade dos movimentos da vanguarda"?
A questão que nos coloca toca uma área problemática no uso da língua, pois trata-se de informação lexical, isto é, de uma estrutura que diz respeito a cada palavra ou constituinte frásico e à sua relação com as outras palavras ou outros constituintes frásicos, e para a qual não há regras fixas. Na maioria dos casos, os utilizadores conhecem as palavras e empregam as estruturas correctas, e normalmente esse conhecimento é tanto maior quanto maior for a experiência de leitura do utilizador da língua.
No caso dos pronomes clíticos de objecto directo (
o, os, a, as
, na terceira pessoa) ou de objecto indirecto (
lhe, lhes
, na terceira pessoa), a sua utilização depende da regência do verbo com que se utilizam, isto é, se o verbo selecciona um objecto directo (ex.:
comeu a sopa = comeu-a
) ou um objecto indirecto (ex.:
respondeu ao professor = respondeu-lhe
); há ainda verbos que seleccionam ambos os objectos, pelo que nesses casos poderá dar-se a contracção dos pronomes clíticos (ex.:
deu a bola à criança = deu-lhe a bola = deu-lha
).
O verbo
perturbar
, quando usado como transitivo, apenas selecciona objectos directos não introduzidos por preposição (ex.:
a discussão perturbou a mulher; a existência perturbava Carlos
), pelo que deverá apenas ser usado com pronomes clíticos de objecto directo (ex.:
a discussão perturbou-a; a existência perturbava-o
) e não com pronomes clíticos de objecto indirecto.
Assim sendo, das duas frases que refere, a frase “para Carlos, não o perturbava a existência, ou mesmo a necessidade dos movimentos da vanguarda” pode ser considerada mais correcta, uma vez que respeita a regência do verbo perturbar como transitivo directo. Note que deverá usar a vírgula depois de “para Carlos”, uma vez que se trata de um complemento circunstancial antecipado.
islamita / islamista
Agradeço que me informem porque é que se ouve dizer
islamistas
e não
islamitas
?
A utilização da forma
islamista
pode explicar-se pela regularização derivada da analogia com outros casos de substantivos terminados em -
ismo
(ex.:
abstencionismo
,
catolicismo
,
socialismo
), aos quais correspondem adjectivos terminados em
-ista
(ex.:
abstencionista
,
catolicista
,
socialista
). Não se pode considerar que essa forma esteja errada, pois segue as normas de derivação da língua portuguesa, com o sufixo
-ista
, bastante produtivo na língua, aposto ao substantivo
islame
, variante menos usada de
islão
. Trata-se, contudo, de uma forma não consensual e mesmo polémica, tanto em relação ao uso, quanto em relação ao significado, e são poucos os dicionários de língua portuguesa que a registam.
A forma registada pela maioria dos dicionários de português é
islamita
, palavra derivada da aposição do sufixo -
ita
(que exprime a noção de origem ou naturalidade) ao substantivo
islame
. Esta palavra tem no seu significado uma relação com
islamismo
, que nos dicionários de português é frequentemente sinónimo de
islão
ou religião islâmica.
É importante referir ainda que vários dicionários que não registam a forma
islamista
registam no entanto
pan-islamista
(é o caso, por exemplo, do
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa
[2001], do
Dicionário Houaiss
[2002], do
Dicionário Aurélio
[2010]), não havendo registo de
pan-islamita
. Fica clara neste derivado a relação
-ismo/-ista
que é polémica em
islamismo/islamista
.
Esta problemática não diz respeito apenas ao português, mas é transversal a outras línguas e as soluções lexicográficas encontradas nessas línguas também não são unânimes.
Em relação ao espanhol, veja-se, a título de exemplo a distinção feita no
Diccionário de la Léngua Española
, da Real Academia Española [consultas em 2015-12-03], entre
islamita
(muçulmano) e
islamista
(pertencente ou relativo ao integrismo muçulmano); deve registar-se ainda que
islamismo
tem a definição relativa apenas ao conjunto de crenças e preceitos morais que constituem a religião de Maomé. O
Diccionario de uso del español de América y España
(Barcelona: SPES EDITORIAL, 2003 [CD-ROM]) só regista
islamita
(que professa o islamismo) e
islamismo
(islão).
Relativamente ao francês, no
Trésor de la Langue Française informatisé
[consultas em 2015-12-03] apenas surge como entrada o verbete
islamite
(que é da religião ou civilização islâmica), sendo a forma
islamiste
indicada como variante. Já
Le CD-ROM du Petit Robert
(versão 2.1, Dictionnaires Le Robert / VUEF, 2001) regista somente a entrada
islamiste
, que define apenas como relativo ao islamismo, sendo
islamisme
quer a religião muçulmana, quer o movimento político e religioso que preconiza a expansão do ou o respeito pelo islão.
Como exemplo para o italiano, o
Dizionario Garzanti Linguistica
[consultas em 2015-12-03] mostra-nos uma definição de
islamista
relativa ao islão ou ao islamismo e regista ainda as acepções de estudioso do islamismo ou de assuntos islâmicos e de seguidor ou defensor do islamismo, em particular seguidor do islão tendente ao fundamentalismo. Em
islamita
, este dicionário apresenta a definição de que ou quem é seguidor do islamismo.
Nos dicionários de língua inglesa será porventura mais fácil encontrar exemplos do registo das formas equivalentes em inglês para
islamista
,
islamita
e
islamismo
com relação com o fundamentalismo islâmico ou, simultaneamente, com o fundamentalismo islâmico e com a religião islâmica, mas raramente se encontra apenas a relação com a religião islâmica [consultas em 2015-12-03]. Veja-se, por exemplo, que
islamism
aparece registado apenas como movimento fundamentalista islâmico (ver
Oxford Dictionaries
ou
Collins English Dictionary
) ou, simultaneamente, como fundamentalismo islâmico e como a religião islâmica (ver
The American Heritage
ou
Merriam-Webster's Online Dictionary
).
Os dicionários veiculam frequentemente informações relativas ao uso das palavras, por vezes baseadas em critérios estatísticos (que é cada vez mais o caminho da lexicografia contemporânea), outras vezes baseadas no conhecimento linguístico dos lexicógrafos ou numa combinação de ambos. Como na maioria das questões linguísticas, o problema não se esgota aqui e inclui outras variáveis que têm de ser analisadas ou pelo menos ponderadas para explicar a falta de unanimidade. Neste campo, as respostas peremptórias são normalmente redutoras.
Estudiosos, jornalistas e investigadores de assuntos relacionados com o Islão vêm estabelecendo uma distinção entre
islamitas
(crentes muçulmanos) e
islamistas
(integristas ou fundamentalistas muçulmanos) e ainda entre
islão
(religião e fé) e
islamismo
(ideologia ou activismo político). Esta distinção, que poderá ter a função de estabelecer conceitos operatórios, tem vingado na comunicação social e na literatura especializada, onde a forma
islamista
tem curso e grande número de ocorrências.
Seria menos polémico utilizar locuções explicativas como "fundamentalista islâmico", "extremista islâmico", "radical muçulmano" ou semelhantes, em vez de
islamista
ou
islamita
, mas é claro que se trata sempre de uma opção do utilizador da língua ou, no caso de órgãos de imprensa ou agências noticiosas, de opções editoriais ou de estilo. Em muitos casos, trata-se ainda da utilização de palavras próximas das formas utilizadas pelas agências noticiosas estrangeiras, nomeadamente em língua inglesa ou francesa.
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natalino
natalino
(
na·ta·li·no
na·ta·li·no
)
adjectivo
adjetivo
Relativo à época do Natal (ex.:
enfeites natalinos
).
=
NATALÍCIO
Origem etimológica:
natal + -ino
.